Hoje escrevo sobre 2 disciplinas que, a meu ver, deveriam ser obrigatórias em todo curso de Direito.
Quanto mais pensamos sobre o futuro do mercado jurídico, mais percebemos que a conjuntura está exigindo dos profissionais novas habilidades e novas mentalidades. Paradoxalmente, enquanto o mundo está cada vez mais acelerado, nossos sistemas educacionais pouco mudaram desde o século XIX, mantendo seus objetivos iniciais: atender as necessidades de uma era que já passou.
A maioria das faculdades de Direito do País segue o mesmo modelo padronizado, mecanizado e linear. Em grande parte dos cursos de Direito, os alunos são ensinados a responder perguntas, mas não a formulá-las. Muitas faculdades brasileiras pecam na preparação dos alunos para os desafios do mercado jurídico, tampouco para os obstáculos que envolvem a carreira da advocacia.
A maioria das faculdades de Direito não prepara os alunos para o futuro
Como professor e advogado, acompanho de perto as dificuldades de dezenas de profissionais. Muitos deles terminam a faculdade completamente despreparados para o mercado. Os próprios grupos de WhatsApp são um “termômetro” de como os jovens terminam o curso (é claro, sempre há exceções). Algumas dúvidas são inacreditáveis, mas, ainda assim, dignas de ser respondidas.
Sempre que posso, compartilho minha experiência com os jovens que pedem auxílio e recomendações práticas. Mas sei que minha ajuda individual não é suficiente. Ainda que os textos publicados neste site venham a atingir milhares de leitores, o número de faculdades de Direito gira em torno de 1.600. A cada ano, milhares de estudantes se formam. Já somos mais de 1,2 milhões de advogados…
As faculdades devem incluir novas disciplinas em seus currículos
É claro que vou continuar fazendo a minha parte, mas penso que, para promover mudanças significativas no ensino jurídico, a iniciativa deve partir das faculdades. Cabe a elas incorporar novos modelos de aprendizado em seus currículos. Cabe também a elas incluir novas disciplinas em seus currículos. O Direito está cada vez mais digital e não voltará a ser analógico como antigamente.
O mercado jurídico está sendo influenciado pelas novas tecnologias. A advocacia está sendo influenciada pela Revolução 4.0, caracterizada pela fusão de tecnologias físicas, digitais e biológicas. Sendo assim, para compreender o “novo mundo” do Direito, todo estudante deve cursar, pelo menos, duas disciplinas essenciais: tendências em serviços jurídicos e habilidades jurídicas.
1. Tendências em serviços jurídicos
Como nome sugere, a disciplina teria como objetivo auxiliar os estudantes a compreender as tendências em serviços jurídicos, tanto no Brasil quanto no exterior. Em suma, o(a) professor(a) poderia explorar, ao longo de duas ou três aulas do conteúdo programático, as diversas categorias de lawtechs e legaltechs brasileiras, oferecendo ao aluno um panorama geral sobre as soluções existentes.
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O ministrante poderia aprofundar algumas das soluções tecnológicas, levando os alunos para conhecer as sedes (ou hubs) das startups. Os estudantes conheceriam as iniciativas de perto e compreenderiam de que forma as soluções poderiam ser incorporadas na prática. Aliás, a experiência como um todo poderia despertar insights em alguns estudantes, levando-os a criar lawtechs/legaltechs no futuro.
Além disso, o(a) professor(a) municiaria os alunos com noções de análise de tendências, de modo a capacitá-los a compreender o comportamento do mercado jurídico no passado e no presente. Desse modo, os estudantes concluíram a disciplina mais capacitados a prever o movimento futuro de produtos ou serviços no mercado jurídico com base em dados históricos e/ou estatísticos.
2. Habilidades jurídicas
Em síntese, essa disciplina ajudaria os alunos a desenvolver habilidades fundamentais para o mercado jurídico do futuro. O estudante que deseja construir uma carreira sólida na advocacia deve adotar o continuous reskilling. Imagine uma disciplina que ensine habilidades como apresentação pessoal, pensamento crítico, negociação, criatividade, inteligência emocional e flexibilidade cognitiva.
Desenvolvendo habilidades como essas, os estudantes estarão mais preparados para o mercado jurídico do futuro. Em suma, estarão mais capacitados para impulsionar seus escritórios de advocacia. Aliás, mesmo que não desejem advocacia ou a carreira pública, estarão mais habilitados para desenvolver, por meio de startups, soluções tecnológicas capazes de aprimorar os serviços jurídicos.
As novas tecnologias estão tornando as relações humanas mais complexas. Situações inusitadas – e sem precedentes – estão batendo à porta do Poder Judiciário. Os escritórios de advocacia estão recebendo as novas demandas. Os clientes, estimulados pelo desafio do “mais por menos” sugerido por Richard Susskind. Daí decorre a necessidade de o estudante se preparar cada vez mais.
Incorporando novas disciplinas
Enfim, estas são singelas ideias para duas disciplinas. Aliás, os nomes são meramente sugestivos e podem ser adaptados. Coordenadores de cursos de graduação em Direito: sintam-se livres para incorporar os conceitos dessas disciplinas nas grades curriculares. Tenho a convicção de que estarão preparando melhor seus alunos para o futuro e para construir um mundo melhor.
Então, o que me dizem? Vamos dar os primeiro passos?
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