A telepresença poderá transformar as audiências judiciais?

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À medida que a pandemia prossegue, impondo um regime de isolamento em muitas localidades, escritórios de advocacia e departamentos jurídicos estudam novas maneiras de oferecer a melhor experiência de atendimento possível aos seus clientes. E uma das apostas do momento, ainda com poucos adeptos, é a telepresença (telepresence).

Compreendendo a telepresença

A telepresença, em síntese, é uma videoconferência aprimorada. A ideia é conectar – por meio de três ou mais monitores – duas salas fisicamente distantes para que se pareçam uma única sala de reunião. O objetivo da telepresença é aprimorar, portanto, a experiência da reunião, oferecendo aos participantes a sensação de que estão no mesmo ambiente.

A imagem a seguir ilustra, aliás, o modelo:

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A telepresença poderá transformar as audiências judiciais?

Mais do que uma simples videoconferência

O conceito foi idealizado pela Cisco Systems em 2004. O escopo? Criar uma nova experiência de reunião virtual que transcendesse qualquer outra alcançável pelos tradicionais sistemas de videoconferência. Talvez você esteja pensando que o simples ato de remodelar a sala de reunião, conectando três telas na mesa, em nada altera a experiência.

Mas, para quem conheceu de perto o sistema, a sensação é de que não se trata de uma simples videochamada. Tim Szigeti, engenheiro de marketing da Cisco, refere ser difícil resumir em palavras o quão autêntica é a experiência oferecida pela telepresença. Conforme ele, as pessoas precisam experimentar para entender todo o seu potencial:

Eu me lembro claramente de olhar para uma imagem em tamanho real de um colega, na tela de alta definição, ver o ponteiro dos segundos em seu relógio bater em tempo real e pensar: ‘Isso pode mudar tudo’. – Tim Szigeti

A sensação é muito próxima à de estar na mesma sala

Richard Susskind, que teve a oportunidade de experimentar a telepresença, relata que a sensação é muito próxima à de estar na mesma sala. De acordo com o professor britânico, a mente une os pontos para que os participantes se sintam fisicamente no mesmo espaço. A imersão foi tamanha a ponto de Susskind oferecer uma bebida ao seu convidado:

Ao usar uma versão posterior desse sistema (…) com um cliente em Hong Kong, a sensação de estarmos juntos era tão forte que, sem pensar, ofereci ao cara do outro lado da tela uma xícara de chá. – Richard Susskind

Sistemas de telepresença como os desenvolvidos pela Cisco ainda são caros. O investimento para instalar softwares e hardwares em salas de reuniões físicas envolve alguns milhares de dólares. Mas, à medida que a tecnologia evolui, barateando os componentes envolvidos na fabricação dos dispositivos, a telepresença será cada vez mais acessível aos advogados.

A telepresença poderá transformar as audiências?

Ao oferecer aos participantes a sensação de estar reunidos num único lugar – ainda que fisicamente distantes –, a telepresença abre caminho para aplicações não só dentro dos escritórios de advocacia e departamentos jurídicos, mas no âmbito das audiências judiciais, aprimorando a produção de prova e a experiência de todos os atores judiciários.

Algumas unidades judiciárias brasileiras, só para ilustrar, já utilizam dispositivos da Cisco Systems para realizar suas atividades durante a pandemia. Será que a telepresença passará a estar no radar do Poder Judiciário? Terá a telepresença potencial de transformar as audiências judiciais no futuro? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.


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Bernardo de Azevedo

Bernardo de Azevedo

Advogado. Doutorando em Direito (UNISINOS). Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Computação Forense e Segurança da Informação (IPOG). Professor dos Cursos de Pós-Graduação em Direito da Universidade FEEVALE e da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
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