Se você precisasse de aconselhamento jurídico nos anos 60, normalmente se deslocaria até um escritório de advocacia para analisar seu problema. O profissional pesquisaria informações sobre o caso e cobraria um valor fixo pelo serviço. Talvez uma taxa por hora de trabalho. Curiosamente, passadas mais de cinco décadas, o fluxo de trabalho dos advogados e a experiência do cliente continuam praticamente as mesmas.
É claro que mudanças aconteceram. As máquinas de escrever deram lugar aos computadores; a pesquisa jurisprudencial não é mais analógica como antigamente; os processos estão cada vez mais eletrônicos. Mas, mesmo com todos os avanços tecnológicos, algumas práticas pouco mudaram. Tal como na década de 60, a maioria dos escritórios continua resistente à inovação, sem muita vontade de experimentar coisas novas.
A lógica mudou
Resistir ao novo, ao diferente, não é comportamento próprio dos advogados brasileiros. Nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, muitos profissionais seguem optando por práticas tradicionais, com pouco ou nenhum uso de tecnologia. Só que as “velhas práticas” deverão em breve se adaptar para enfrentar aquilo que o professor Richard Susskind chama de “desafio do mais por menos” (‘more-for-less’ challenge).
O cenário está mudando, e os clientes querem agora mais qualidade do serviço por menor preço. Essa tendência comportamental envolve diversos fatores, mas é ampliada pelos aplicativos de deslocamento móvel. Há uma década, as pessoas preferiam pegar ônibus do que táxi, pois a diferença de valor entre cada serviço era significativa. Hoje, uma corrida de Uber pode sair mais barata do que uma passagem de ônibus.
Os clientes têm agora dois ou três apps instalados em seus smartphones. Normalmente, simulam o valor da corrida em cada um dos aplicativos e selecionam a “mais em conta”. Afinal, a mesma corrida que custa R$ 12,00 no Uber pode custar, naquele mesmo minuto, R$ 24,00 no Cabify. Por que o cliente pagaria R$ 24,00 se pode pagar R$ 12,00? Na prática, ambos os serviços são similares e vão levá-lo do ponto “A” ao ponto “B”.
A mesma lógica está atingindo o trabalho dos profissionais da advocacia. Por que pagar “x+1” por um advogado se é possível pagar “x-1” para resolver o problema de forma online? Os modelos tradicionais de cobrança estão, portanto, sendo pressionados. A tabela da OAB está sendo questionada, levando alguns profissionais, na ânsia de sobreviver no mercado jurídico, a cobrar míseros R$ 50,00 para acompanhar uma audiência.
Automatizando tarefas rotineiras e repetitivas no escritório de advocacia
A essa altura você deve estar se perguntando: como superar essa tendência comportamental? Cobrar menos certamente não é uma delas, já que os boletos não param de chegar. Mas, então, como enfrentar o tal desafio do “mais por menos”? Uma das formas de lidar com o impasse é automatizando trabalhos rotineiros e repetitivos, que, de fato, representam uma parcela significativa da rotina dos profissionais da advocacia.
Essa decisão envolve, em primeiro lugar, identificar quais atividades podem ser automatizadas. Não existe “fórmula mágica” ou “receita de bolo”, pois cada escritório de advocacia tem seu próprio fluxo de trabalho e sabe (ou deveria saber) quais tarefas demandam mais tempo e recursos. A equipe de profissionais deve estudar, desse modo, quais são as tarefas que podem ser “rotinizadas” e realizada de maneira mais eficiente.
Já o segundo passo é experimentar. Existem muitas soluções tecnológicas disponíveis no mercado brasileiro, cada qual com suas características. Há serviços de revisão de documentos jurídicos, redação de contratos e pesquisa jurisprudencial. Mas o escritório precisa testar as ferramentas na prática, experimentá-las em diversas situações e executar o maior número possível de atividades com os dispositivos oferecidos.
Nem tudo pode ser automatizado
Por fim, para lidar com o desafio do “mais por menos” é essencial ver a automação como aliada. Se a automação de tarefas rotineiras e repetitivas será suficiente para superar o ‘more-for-less’ challenge, ainda não sabemos. Mas, com ela, os profissionais conseguem realocar tempo para focar no que realmente importa: os aspectos criativos e estratégicos da prática jurídica, além de tudo que envolva melhorar a experiência do cliente.
Embora a tecnologia tenha enorme potencial de auxiliar na rotina dos advogados, essas três atividades em especial, ao que tudo indica, não serão automatizadas tão cedo. As máquinas não têm a nossa criatividade e, mesmo que nos ajudem a tomar decisões, cabe a nós desenvolver as estratégias. A experiência do cliente, então, nem se fala: às vezes, um convite para um café ou mesmo uma ligação é capaz de fazer toda a diferença.
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