Beber suco de uva antes da audiência ajuda a fechar acordo, revela pesquisa

Compartilhe este conteúdo

Uma pesquisa conduzida na Universidade Federal de Goiás (UFG) revelou que beber suco de uva antes de audiências judiciais estimula as partes a fechar acordos. Coordenado pela juíza Aline Vieira Tomás, o experimento demonstrou que jurisdicionados que ingerem a bebida antes das solenidades ficam bem mais abertos ao diálogo.

A magistrada realizou a pesquisa com jurisdicionados e advogados que participaram de conciliações no 2º Cejus de Anápolis (GO). Em síntese, a ingestão de suco de uva pelas partes antes das audiências resultou no aumento de 31,03% no número de acordos, levando o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) a instituir nova política de conciliação.

Como funcionou a pesquisa

A juíza acompanhou 659 audiências de conciliação durante a pesquisa. Para mensurar os resultados, houve divisão dos jurisdicionados em dois grupos. No primeiro (experimental), o servidor responsável pela condução da audiência deixava uma jarra de suco de uva à disposição das partes. Já no segundo (de controle), apenas água era oferecida.

A imagem a seguir fornece estatísticas mensais das porções de acordo atingidas durante o experimento. Como se pode observar, o sabor doce do suco contribuiu para aumentar o número de acordos. Houve um aumento de desempenho de 31,03% no índice de conciliação no grupo experimental (76,27%), quando comparado ao grupo de controle (45,24%):

E por que o suco de uva?

Conforme a magistrada Aline, o “segredo” está em um de seus componentes: a glicose. As partes normalmente chegam nas audiências com uma postura combativa (sistema de punição). E a glicose atua no sistema límbico, responsável por todas as respostas emocionais, favorecendo a transição do sistema de punição para o sistema de recompensa:

A glicose é o principal combustível do cérebro humano e uma das formas possíveis de se acionar o sistema de recompensa cerebral, desencadeando sensações de bem-estar e satisfação. Ela propicia a transição do sistema de punição para o de recompensa, permitindo que o sentimento de raiva dê lugar à abertura para comunicação, facilidade de negociação e melhor aptidão para ouvir o outro, que é justamente o que precisamos para que uma conciliação seja efetivada. – Aline Vieira Tomás

Amparada em estudos de glicobiologia e na avaliação de endocrinologistas, metabologistas e psicólogos, a juíza identificou que, ao oferecer glicose antes da audiência, as partes ficam mais dispostas a fechar acordos. Os jurisdicionados se abrem para o diálogo e passam a se escutar mais atentamente, favorecendo a negociação e conciliação.

Acompanhada de um nudge (“sirva-se”), uma jarra de suco de uva ficava à disposição das partes durante toda a audiência. Por ser líquido, o suco de uva é rapidamente absorvido pelas partes, oferecendo uma concentração adequada e saudável de glicose. Além disso, o custo é baixo. O investimento do Poder Judiciário é de apenas R$ 2,90 por audiência.

É provável que você goste:

TJBA desenvolve ferramenta de busca de processos por similaridade

Projeto Adoce

A ideia do experimento surgiu de uma pesquisa conduzida em Israel. Só para ilustrar: esse estudo identificou que juízes criminais estavam mais propensos a deferir pedidos de liberdade provisória após as refeições. A pesquisa revelou, além disso, que o percentual de indeferimentos subia à medida que os nível de glicose no sangue ficavam menores.

Os resultados da pesquisa conduzida pela magistrada Aline Vieira Tomás incentivaram o TJGO a lançar o projeto Adoce. O Decreto Judiciário nº 184/2020 instituiu recentemente o programa, que oferece enorme potencial para cumprir as metas do Plano de Gestão do tribunal goiano e as diretrizes exigidas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Aliar a glicobiologia e a psicologia comportamental ao Direito permitiu ao projeto Adoce dar uma nova roupagem à política pública conciliatória: alcançar o acordo como consequência natural de reações orgânicas e biológicas do corpo humano. É a ciência aplicada à prática forense. – Aline Vieira Tomás


Enfim, quer estar por dentro de tudo que envolve Direito, inovação e novas tecnologias?

Siga-me, então, no Facebook, Instagram e LinkedIn e acompanhe conteúdos diários para se manter atualizado.

Bernardo de Azevedo

Bernardo de Azevedo

Advogado. Doutorando em Direito (UNISINOS). Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Computação Forense e Segurança da Informação (IPOG). Professor dos Cursos de Pós-Graduação em Direito da Universidade FEEVALE e da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Rolar para cima