Conectar leis diretamente às nossas mentes será possível no futuro, sugere professor britânico

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Estamos vivendo uma era marcada por turbulências imprevisíveis para as quais não estamos preparados. Empresas estão tendo dificuldades para acompanhar o ritmo acelerado de todas as mudanças. Estruturas organizacionais do século passado não são mais capazes de corresponder às novas demandas. Nossas mentes ainda não se conscientizaram da força dessa onda de transformações.

Todos os mercadores, setores, áreas e profissões estão sendo impactadas pelas novas tecnologias. A Quarta Revolução Industrial, caracterizada pelo encurtamento de distâncias entre o mundo físico, biológico e digital, está modificando a forma com que os profissionais do Direito realizam suas atividades. Em síntese, as relações humanas e as questões jurídicas estão cada vez mais complexas.

Afinal, o que será do Direito amanhã? Que espécies de demandas os magistrados terão de analisar? Quais argumentos jurídicos os profissionais da advocacia deverão formular? Que soluções tecnológicas estarão disponíveis no mercado? A inteligência artificial será responsável pelo julgamento dos processos judiciais? É impossível saber, sobretudo em uma era de mudanças tão aceleradas.

As previsões de Richard Susskind

Embora ninguém seja capaz de prever o futuro, alguns especialistas estão convencidos de que é possível antecipar cenários do mundo ainda por vir, a partir de sinais e tendências. Richard Susskind é, seguramente, um deles. No livro Tomorrow’s Lawyers (2013), o professor sugere que tanto as instituições quanto as profissões jurídicas serão transformadas de forma irreversível no futuro.

Em textos anteriores, apresentei algumas das previsões do professor britânico para o futuro do Direito, tais como o desafio do “mais por menos”, a liberalização dos serviços jurídicos e os impactos das novas tecnologias. Em síntese, essas três antevisões se situam no curto e médio prazo. Mas hoje quero tratar de uma previsão de longo prazo publicada no livro Tomorrow’s Lawyer (2013).

Refiro-me à possibilidade de conectar leis diretamente às nossas mentes.

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Leis conectadas diretamente às nossas mentes

Susskind acredita que a tecnologia da informação, a nanotecnologia, a robótica e a genética serão conectadas de modo sem precedentes nas próximas décadas. Conforme o professor, quando esse convergência acontecer, será possível acondicionar um sem número de informações em microchips e redes. Como resultado, todas as leis e regulamentos poderão ser conectados diretamente às nossas mentes.

A previsão de Susskind é baseada na tecnologia de interface cérebro-computador (Brain-Computer Interface – BCI), hoje em desenvolvimento. Só para ilustrar: já existem empresas que estão trabalhando para conectar nossos cérebros a computadores. Empresas como Neuralink e Kernel, por exemplo, estão convencidas de que a interface cérebro-máquina será uma realidade nos próximos anos.

Interface cérebro-computador

A ideia por trás da Neuralink é desenvolver, através de redes neurais, uma interface cérebro-máquina para impulsionar as habilidades cognitivas dos seres humanos. A empresa pretende implantar pequenos eletrodos no cérebro humano. Conforme o empreendedor sul-africano Elon Musk, fundador da Neuralink, os dispositivos serão capazes de fazer download/upload de nossos pensamentos.

A técnica permitiria, em tese, implantar informações em nossos cérebros e criar simulações computacionais indistinguíveis da realidade. Seríamos capazes de sentir o vento, o calor, o toque, etc. Para Elon Musk, nas próximas décadas haverá uma convergência entre a inteligência biológica e a inteligência artificial. Quando esse dia chegar, distinguir o real do virtual será um desafio.

Conectando o mundo digital com o neocórtex humano

Já a Kernel, fundada pelo empresário estadunidense Bryan Johnson, busca criar conexões duradouras entre o mundo digital e o neocórtex humano. O objetivo é aumentar a inteligência humana e a qualidade de vida. De acordo com Johnson, ao conectar o neocórtex com a nuvem, o ser humano será capaz de aprimorar suas funções cognitivas, bem como a capacidade de memória.

Johnson investiu nada menos que US$ 100 milhões do próprio bolso na iniciativa. Tudo para desbloquear o poder do cérebro humano e tornar nosso código neural em algo programável. Atualmente, a empresa Kernel está aumentando seu time de neurocientistas e engenheiro de softwares, com a finalidade de tornar nossos cérebros mais conectados, rápidos e inteligentes.

Será um dia possível conectar as leis diretamente às nossas mentes?

Antes de superar os obstáculos relacionados à tecnologia, os especialistas precisarão desenvolver um mapa abrangente do cérebro humano. Esse, talvez, seja o maior contratempo. Como lembra o físico teórico Michio Kaku, a mente humana é uma das forças mais misteriosas do mundo. Além disso, o cérebro, pesando apenas um quilo e meio, é o elemento mais complexo do sistema solar.

Os advogados poderão um dia acessar as leis a partir de suas mentes? Ainda não sabemos. Serão necessárias décadas de pesquisa para desenvolver dispositivos seguros para implantação em seres humanos. Mas a BCI é uma realidade e está progredindo rapidamente. A tecnologia vem sendo aplicada em pacientes com Mal de Parkinson, elipsepsia e outras doenças neurodegenerativas.

Empresas como Kernel e Neuralink nos oferecem um vislumbre de quão longe a tecnologia poderá nos levar. Todo esse cenário leva o professor Richard Susskind a acreditar que, no futuro, seremos capazes de consultar todas as leis do planeta a partir de nossas mentes. Enfim, parece improvável? Sim. Mas impossível? Em se tratando de tecnologia, o impossível – quase sempre – se torna viável.


Continue explorando o assunto

KAKU, Michio. O futuro da mente. São Paulo: Rocco, 2015.

SUSSKIND, Richard. Tomorrow’s lawyers: an introduction to your future. 2. ed. Oxford: Oxford University Press, 2013.


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Bernardo de Azevedo

Bernardo de Azevedo

Advogado. Doutorando em Direito (UNISINOS). Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Computação Forense e Segurança da Informação (IPOG). Professor dos Cursos de Pós-Graduação em Direito da Universidade FEEVALE e da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
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