Embalsamadores digitais: quem são esses profissionais?

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Em um mundo cada vez mais repleto de influenciadores digitais, com empresas investindo milhões de dólares em anúncios no Instagram, uma nova geração de profissionais está se formando. Chamados de embalsamadores digitais, esses especialistas estão ajudando celebridades, artistas e marcas a planejarem suas vidas digitais após a morte.

Os contornos da profissão ainda não estão bem definidos, mas seu potencial envolve, em grande parte, a indústria do cinema e do entretenimento. Na opinião de profissionais como Kathleen Cohen, esse novo negócio de consultoria de imagem e legado está apenas começando, mas artistas renomados já buscam saber como perpetuar suas vidas digitais.

Por dentro da indústria do cinema

O especialista em efeitos digitais Darren Hendler refere que alguns atores e atrizes já estão realizando os preparativos para que suas vidas como artistas continuem mesmo após a morte. Profissionais estão investindo milhões de dólares para se preservarem digitalmente no arquivo da empresa em que Darren Hendler trabalha, a Digital Domain.

Empresas como a Digital Domain permitem que os artistas registrem como seu rosto funciona, nos mínimos detalhes. Até a maneira como a voz soa pode ser arquivada digitalmente. Filmes como Blade Runner 2049 e Rogue One: A Star Wars Story, que adotaram técnicas similares às usadas pela Digital Domain, nos oferecem um vislumbre deste futuro.

Em Blade Runner 2049, por exemplo, há uma cena na qual Rick Deckard (Harrison Ford) reencontra a replicante Rachael com o rosto digitalizado. No filme original de 1982, a personagem foi interpretada pela atriz Sean Young, hoje com 60 anos de idade. Para fazer a cena, os produtores de Blade Runner 2049 decidiram usar uma versão digitalizada da atriz.

Os técnicos de efeitos especiais escanearam a cabeça e o crânio de Sean Young e depois usaram as filmagens do primeiro filme para moldar um rosto mais jovem ao redor do crânio escaneado. Feito isso, reorganizaram os áudios das interpretações antigas da atriz. O vídeo a seguir ilustra, aliás, em mais detalhes, como o procedimento foi conduzido:

O fato de Sean Young estar viva à época das gravações facilitou o trabalho dos técnicos, mas a indústria do cinema também já “trabalhou” com artistas falecidos. Em 2016, Peter Crushing “voltou à vida” na “pele” de Grand Moff Tarking, em Rogue One: A Star Wars Story. O ator, que morreu em 1994, teve seu rosto inteiramente digitalizado para participar do filme.

Com técnicas diferentes, tanto Sean Young (esq.) quanto Peter Crushing (dir.) foram digitalizados

Os embalsamadores digitais na indústria do cinema

Os embalsamadores digitais terão papel relevante na manutenção do legado do artista falecido, o que pode representar, em certa medida, o fechamento de novos contratos mesmo após a morte. Embora os filmes imortalizem seus intérpretes nas telas, embalsamadores digitais permitiriam que atores e atrizes continuassem “atuando” mesmo depois de mortos.

Com suas versões digitalizadas, os artistas interpretariam “novos” personagens eternamente. Desse modo, os embalsamadores digitais ficariam responsáveis por gerenciar o arquivo digital, manter a interlocução com diretores, produtores e roteiristas, cuidar dos assuntos jurídicos correlatos e gerenciar redes sociais para divulgar “novos trabalhos” do artista.

A indústria do cinema ainda não é capaz de produzir uma excelente performance de um ator morto. Os especialistas em efeitos especiais não conseguem reproduzir movimentos corporais complexos. Mas, à medida que a tecnologia avança e novas técnicas são descobertas, quem pode dizer que os experts serão capazes de concretizar daqui 20 ou 30 anos?

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Embalsamadores digitais na indústria do entretenimento

A indústria do entretenimento também oferece espaço aos embalsamadores digitais, que poderão manter a interlocução com produtoras de shows para que seus clientes “apareçam” em concertos musicais. Em 2012, aliás, a Digital Domain “trouxe à vida” o rapper Tupac Shakur durante um festival de música, utilizando a técnica de ilusão pepper’s ghost.

A técnica envolve colocar uma folha de vidro para transmitir e refletir parcialmente a luz. Ao posicionar cuidadosamente o vidro e uma fonte de luz, determinado objeto pode ser criado e inserido num local completamente diferente. O rapper, falecido em 1996, foi “ressuscitado” com o jogo de espelhos, que, aliás, se assemelha a um holograma:

Embalsamadores digitais, profissionais do futuro?

Iniciativas como a Back Up Your Life, fundada por Anette Admaska, já auxiliam pessoas a se “prepararem” digitalmente para o dia de sua morte. Só para ilustrar, a empresa de Admaska faz backup de tudo: passaportes, senhas, memórias, documentos. Além disso, ajuda a criar planos de contingência para as vidas atuais e digitais (após a morte) de seus clientes.

A nova profissão traz consigo oportunidades, mas também dúvidas. Devemos realmente entrar na era da imortalidade digital? Será que o público terá interesse em assistir filmes ou shows protagonizados por artistas mortos? Alguém pode continuar sendo considerado lenda se for recriado digitalmente? Digitalizar alguém é, de fato, preservar seu legado?

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Bernardo de Azevedo

Bernardo de Azevedo

Advogado. Doutorando em Direito (UNISINOS). Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Computação Forense e Segurança da Informação (IPOG). Professor dos Cursos de Pós-Graduação em Direito da Universidade FEEVALE e da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
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