Empresas apostam em ferramentas para gerenciar o legado digital

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Recentemente escrevi um texto sobre os chamados embalsamadores digitais. Essa nova classe de profissionais tem como foco principal ajudar celebridades, artistas e marcas a gerenciar o legado digital, planejando suas vidas digitais após a morte. Na ocasião em que o artigo foi publicado, a reação dos leitores foi desde a surpresa até o absoluto ceticismo.

Pois bem. Nesta semana o portal britânico The Guardian publicou um artigo expondo, em mais detalhes, os contornos daquilo que pode ser chamado de legado digital ou testamento digital. Com o título Quem vai lidar com a sua presença online quando você morrer? (em tradução livre), o texto assinado por Naaman Zhou sintetiza a relevância do tema:

Duas coisas são certas na vida: a morte e a internet. Com tantas funções, tarefas e memórias do dia a dia agora ocorrendo online, a questão de o que acontecerá com seu legado digital – quem irá preservar, controlar ou excluir suas contas quando você se for – tornou-se cada vez mais importante. – Naaman Zhou

Algumas empresas já estão oferecendo serviços de consultoria de imagem e legado, mas a área ainda é repleta de tabus. As pessoas não costumam a pensar sobre o futuro, como revelou uma pesquisa do Institute for the Future. Da mesma forma, não há muita preocupação em planejar o que acontecerá com suas identidades e contas digitais após a morte.

Planejando o legado digital

Emily van der Nagel, pesquisadora na Monash University, sustenta que as pessoas deveriam pensar sobre nisso como fazer backup de seus dadosConforme ela, é melhor planejar o legado digital em vida. Depender depois de empresas contratadas pelos familiares pode ser prejudicial, pois nem sempre se consegue captar os desejos da pessoa falecida:

Vale a pena pensar em como você pode querer salvar esse conteúdo digital para as pessoas que quiserem acessá-lo após a sua morte. Pode ser uma boa prática fazer a curadoria de um pouco, configurar uma pasta. – Emily van der Nagel

A Back Up Your Life, por exemplo, propõe fazer um backup da vida de seus clientes. Com sede em Durham, na Inglaterra, a empresa fundada por Anette Admaska ajuda pessoas a se preparar digitalmente para o dia de sua morte. Para atingir esse objetivo, aliás, é feito backup de tudo: senhas, passaportes, memórias, fotos, vídeos, documentos…

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A Back Up Your Life propõe fazer um backup da vida de seus clientes

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Embalsamadores digitais: quem são esses profissionais?

Em síntese, a Back Up Your Life ajuda pessoas a criar planos de contingência para as vidas atuais e digitais (após a morte). A empresa oferece dois pacotes com planos de ação específicos, sendo um deles do tipo “Faça Você Mesmo”, no qual os clientes podem executar o processo por conta própria, e outro mais guiado, com orientações passo a passo e check-ins.

Entre as soluções oferecidas pela empresa estão a gestão de pagamentos recorrentes (para manutenção de serviços específicos, por exemplo) e das redes sociais. Os serviços abrangem, só para ilustrar, publicações nas redes sociais dos influenciadores digitais, mantendo uma comunicação ativa com os seguidores mesmo após a morte daqueles.

As soluções de gestão das redes sociais não se restringem à esfera profissional. Na esfera pessoal, a Back Up Your Life gerencia as mídias sociais do falecido para evitar que os entes queridos recebam “gatilhos de luto”. Pense, por exemplo, em notificações de aniversário ou outras lembranças recebidas por familiares em momentos impróprios ou delicados:

Nada torna o luto mais fácil, mas há coisas que podem torná-lo mais difícil. – Anette Admaska

Cápsula do tempo

A CLOCR é outra que se dedica à gestão do legado digital. Lançada em 2018, a startup desenvolveu um software de planejamento multifuncional, com objetivo de organizar ativos digitais. Entre as funcionalidades está a cápsula do tempo, na qual os usuários inserem memórias, mensagens, fotos, vídeos e conselhos para transmitir aos familiares.

Num mundo em que milhares de pessoas ganham suas vidas como influenciadores digitais e empresas investem milhões de dólares em anúncios nas redes sociais, os embalsamadores digitais aos poucos se firmam como profissionais necessários. E, com pioneirismo na área, empresas como a Back Up Your Life e CLOCR já estão consolidando seu espaço.


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Bernardo de Azevedo

Bernardo de Azevedo

Advogado. Doutorando em Direito (UNISINOS). Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Computação Forense e Segurança da Informação (IPOG). Professor dos Cursos de Pós-Graduação em Direito da Universidade FEEVALE e da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
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