Muitos especialistas estão convencidos de que a prática jurídica jamais será a mesma após o coronavírus. A afirmação pode soar como algo negativo na perspectiva do leitor, mas profissionais como Robert Ambrogi assinalam que a pandemia, por mais horrível e dolorosa que seja, reconfigurará – permanentemente e para melhor – o cenário jurídico.
Em recente artigo publicado no site Above the Law, o advogado e especialista em tecnologia jurídica elencou sete motivos pelos quais a pandemia mudará a prática jurídica para sempre. A essa altura, provavelmente você está cansado(a) de ler sobre a crise, mas convido você a percorrer o texto até o final para compreender melhor os prognósticos.
A pandemia mudará a prática jurídica para sempre
Em síntese, estas são as razões:
1. Os advogados não mais enxergarão a tecnologia como ameaça
Estudos no campo da psicologia comportamental revelam que advogados não são abertos à mudança. Os traços típicos da personalidade desses profissionais os tornam menos propensos a experimentas coisas novas, sobretudo quando o assunto é tecnologia jurídica. Muitos advogados enxergam as novas tecnologias como ameaça para seus clientes e para si próprios.
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Mas, da noite para o dia, a tecnologia se tornou uma “tábua de salvação” para os advogados. Se, antes da pandemia, as novas tecnologias eram vistas como “luxo”, agora elas se tornaram recursos sem os quais o trabalho não pode ser realizado. O uso “forçado” das ferramentas neste período levará os advogados a não mais enxergar a tecnologia como ameaça:
Em questão de um mês, todos os advogados que ainda mantinham medo da tecnologia passaram a vê-la como uma tábua de salvação para a sobrevivência de suas práticas e sua capacidade contínua de servir seus clientes. No futuro, isso reformulará fundamentalmente o uso e a adoção de tecnologia pela profissão de advogado. – Robert Ambrogi
2. As entidades representativas da advocacia serão menos conservadoras
Sempre que formas alternativas de prestação de serviços jurídicos são criadas, as entidades representantes da advocacia mundo afora se movimentam para frear tais iniciativas. Mas, como a situação de isolamento revelou como nunca antes as deficiências dos sistemas de justiça, posturas conservadoras não mais terão espaço no mundo pós-pandemia.
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Os atuais modelos de oferecimento de serviços jurídicos – de domínio exclusivo dos advogados – serão insuficientes no mundo pós-pandemia. Conforme Robert Ambrogi, o novo cenário exigirá agilidade e flexibilidade na prestação dos serviços. Em suma, tudo caminha para a liberalização, permitindo que não advogados também prestem serviços jurídicos.
3. Os movimentos regulatórios serão intensificados
A pandemia do coronavírus (COVID-19) desvelou a fragilidade dos sistemas de justiça. Além disso, enfatizou a importância de investir em soluções tecnológicas para que os serviços jurídicos continuem sendo prestados. Nesse cenário, tudo indica que aos poucos começarão a ser apresentadas propostas legislativas para “liberalizar” os serviços jurídicos.

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Inglaterra e País de Gales são exemplos de nações nas quais a liberalização dos serviços jurídicos é uma realidade. O Legal Services Act (2007) autoriza a criação de alternative business structures (ABS’s), para que não advogados administrem negócios jurídicos. Com a pandemia, movimentos em prol da liberalização dos serviços jurídicos serão intensificados.
4. Os tribunais vão acelerar a inovação e os serviços online
Os tribunais ao redor do mundo estão presos num círculo vicioso que impede a mudança. O cenário se deve, sobretudo, pela crise do acesso à justiça e pelo crescimento exponencial de ações judiciais. Juntos, esses fatores sobrecarregam os tribunais, que não conseguem acompanhar as demandas tampouco formular alternativas para solucionar os problemas.
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Antes da pandemia, tentar aplicar novas práticas nos tribunais equivaleria a tentar trocar o pneu de um carro em movimento. Jamais poderia ser feito. Mas, agora, o veículo está totalmente parado, permitindo não apenas trocar os pneus, como o chassi e o motor. É o momento de modificar as peças do automóvel para, somente então, devolvê-lo à estrada.
À medida que os tribunais se adaptam a curto prazo, eles inevitavelmente mudarão a longo prazo. – Robert Ambrogi
5. Os serviços jurídicos serão entregues, cada vez mais, de forma online
A pandemia está exigindo adaptação dos profissionais da advocacia. Advogados estão tendo de aprender a lidar com novos aplicativos e ferramentas tecnológicas para desempenhar suas atividades. Há quem pense que o aprendizado não terá validade quando a crise passar, mas, como destaca Ambrogi, o aprendizado de agora será o diferencial de amanhã.
Por que o proprietário de uma empresa precisa caminhar até o centro para se encontrar com um advogado? Por que um pai de baixa renda precisa (…) gastar dinheiro em ônibus para obter aconselhamento jurídico? Até que ponto a advocacia presencial tem sido um obstáculo para um fazendeiro rural ou alguém com deficiência física? – Robert Ambrogi
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Conforme o especialista, os serviços jurídicos serão entregues, cada vez mais, de forma online. Ao adotar o modelo de trabalho remoto, o advogado pode atender mais clientes do que se os encontrasse presencialmente. Na visão de Ambrogi, foi necessário que uma pandemia ocorresse para que entendêssemos que o online é mais conveniente e custa menos.
6. Os escritórios de advocacia vão, aos poucos, migrar para o virtual
Muitos advogados já trabalhavam em home office antes da pandemia, tanto por questões de conveniência quanto pela redução de custos e despesas gerais. Agora, com a crise, muitos escritórios de advocacia estão percebendo que, remotamente, podem atingir mais clientes que antes, fechar contratos melhores e, ainda por cima, manter todas as suas atividades.
Até que ponto o ambiente físico de uma empresa é essencial para os serviços que presta? A provocação de Ambrogi faz todo sentido no momento atual, em que muitos escritórios seguem com suas atividades a todo a vapor – e alguns faturando até mais do que antes – em meio à pandemia. Tudo sugere que os escritórios vão, aos poucos, migrar para o virtual.
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7. O ensino jurídico será renovado
Assim como a prática jurídica será reconfigurada, o ensino jurídico não está imune às transformações decorrentes da pandemia. Para Ambrogi, o ensino jurídico nunca mais será o mesmo. Conforme o especialista, teremos de desenvolver melhor os estudantes, tornando-os profissionais mais competentes e confiantes para atender os clientes e a sociedade:
Eu não tenho dúvidas de que, como resultado do que estamos passando agora, a educação jurídica – assim como a advocacia e os tribunais – nunca mais será a mesma. – Robert Ambrogi
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