Nexialistas: serão eles os advogados do futuro?

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O mercado jurídico está evoluindo em ritmo acelerado, exigindo dos profissionais o desenvolvimento contínuo de novas habilidades. Muito especialistas estão convencidos, aliás, de que os advogados do futuro precisarão dominar assuntos relacionados a tecnologia, design thinking e até codificação para se manterem competitivos. Talvez muitos consigam se manter no mercado sem desenvolver todas essas habilidades, mas se preparar nunca é demais.

Preparação para o futuro

Simpatizo com a declaração atribuída a Whitney Young Jr., segundo quem é melhor estar preparado para uma oportunidade e não ter nenhuma do que ter uma oportunidade e não estar preparado. Tenho conversado com advogados que não medem esforços para se preparar, comparecendo a eventos jurídicos e não jurídicos, realizando cursos e lendo tudo sobre Direito, inovação e tecnologia. Alguns estudantes têm feito o mesmo.

Não vejo como ser diferente, afinal, as faculdades de Direito não preparam os profissionais para o novo mercado. Embora existam exceções, as estruturas curriculares não abrangem temas como blockchain, online dispute resolutions, design thinking, legal design, visual law, e por aí vai. Os mais críticos dirão que são “meros anglicismos” ou “termos da moda”, mas, quando começamos a estudar a respeito, percebemos que são práticas eficazes.

De fato, cada tema tem sua complexidade, sendo impossível dominar todos com profundidade. O conhecimento é um grande campo, e a ignorância é ainda maior. Na imensidão de dados e informações a que somos submetidos diariamente, talvez o melhor seja, como sugere o professor Stuart Firestein, buscar uma ignorância sofisticada, refinada, aprimorada. Nunca saberemos tudo e devemos, portanto, permanentemente nos desenvolver.

Profissionais nexialistas

Por mais bem preparado que esteja, o advogado não tem todas as respostas. Mesmo com currículo recheado de pós-graduações, MBAs, LLMs, mestrados e doutorados, nem sempre conseguirá resolver o problema trazido pelo cliente amanhã. Não à toa a postura nexialista vem sendo considerada imperativa dos novos tempos. É preciso saber integrar, de maneira conjunta, complementar e sequencial, as várias disciplinas que compõem o conhecimento.

os advogados do futuro
Advogados nexialistas conseguem, em suma, buscar nexo nas tantas informações que o mundo apresenta

A explosão de informações a que estamos sujeitos nos leva a equacionar diariamente o que realmente precisamos saber e o que não precisamos saber. Mesmo fazendo anotações, criando listas de propriedades, deixando alertas por todos os cantos, no final do dia temos a sensação de que não conseguimos (ou conseguiremos) absorver todas as informações disponíveis. Daí entra, então, o caráter nexialista como um diferencial da “nova Advocacia”.

Advogados nexialistas conseguem buscar nexo nas tantas informações que o mundo apresenta. Eles sabem o que fazer com os dados que recebem e entendem como e quando devem utilizá-los. Analogicamente, refere Walter Longo, é como o trabalho do maestro. Embora muitos acreditem erroneamente que o maestro está apenas “mexendo os braços com uma varinha”, esse profissional, com sua atuação, evita a cacofonia de esforços inúteis. 

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Nexialistas, os advogados do futuro?

Os profissionais nexialistas transitam entre os especialistas e os generalistas. Eles nem sempre sabem as respostas para os problemas jurídicos que lhe são entregues, mas intuem onde encontrá-las. Nexialistas muitas vezes são associados, ludicamente, como “cabeças de hiperlink”, tamanhas são as conexões que conseguem formar. E tudo parte da abertura em conhecer áreas diversas de sua especialidade, adotando uma postura transdisciplinar.

Os advogados do futuro devem, portanto, assumir a posição de maestros. Para muito além de “mexer os braços com uma varinha”, devem integrar diversas áreas do saber para promover os melhores resultados, encontrar nexo em meio à sobrecarga cognitiva e trabalhar em conjunto com outras disciplinas. Os profissionais do advocacia devem, enfim, estar preparados para enfrentar questões jurídicas além dos limites de suas próprias especialidades.


Continue explorando o assunto

FIRESTEIN, Stuart. Ignorância: como ela impulsiona a ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

LONGO, Walter. Marketing e comunicação na era pós-digital. São Paulo: HSM, 2014.


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Bernardo de Azevedo

Bernardo de Azevedo

Advogado. Doutorando em Direito (UNISINOS). Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Computação Forense e Segurança da Informação (IPOG). Professor dos Cursos de Pós-Graduação em Direito da Universidade FEEVALE e da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
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