O mercado jurídico será radicalmente transformado até 2033

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Hoje escrevo a respeito do mercado jurídico e sobre como ele será radicalmente transformado até 2033. Mas, antes, uma introdução.

Mundo linear versus mundo exponencial

Nós, seres humanos, costumamos a pensar no futuro a partir do passado, ou mesmo do presente. Supomos que aquilo que funcionou até hoje funcionará, em uma versão ligeiramente aprimorada, também amanhã. De fato, essa maneira de pensar fez sentido por muitos séculos e foi suficiente para garantir a continuidade da vida humana. Na maior parte da história, aliás, nossos ancestrais tiveram um experiência local e linear.

Local, porque tudo o que acontecia em suas vidas estava à distância de um dia de caminhada. Se algo acontecesse do outro lado do planeta, nossos antepassados jamais saberiam. Linear, porque pouco mudou ao longo dos séculos ou mesmo milênios. A vida de uma geração para outra era praticamente igual. As pessoas usavam as mesmas ferramentas, comiam as mesmas refeições e viviam, em geral, nos mesmos locais.

Na maior parte da história, nossos ancestrais tiveram um experiência local e linear

O futuro será uma extensão do presente?

Mas o mundo atual é completamente distinto. A nova realidade está sendo influenciada pelo impacto da evolução tecnológica exponencial. E, dentro da lógica vigente, é muito pouco provável que o futuro seja uma extensão do presente. O mais certo, como assinala o futurista Gerd Leonhard, é que o amanhã seja absolutamente diferente do agora, já que os pressupostos e a lógica por trás de tudo mudaram.

Futuristas como Leonhard não preveem o futuro, mas tentam intuir e imaginar cenários próximos (daqui cinco ou dez anos). Eles apresentam visões desses mundos para, depois, regressar ao presente a partir do futuro – e não em direção a este. Em suma, alguns futures thinkers como ele estão convencidos de que estamos no ponto de inflexão de uma curva exponencial em muitas áreas da ciência e da tecnologia.

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Estamos próximos do ponto de inflexão

Para alguns especialistas, essa curva exponencial segue a Lei de Moore, segundo a qual a velocidade de processamento (ou seja, a quantidade de capacidade computacional em um chip) de um computador duplica a cada 18 a 24 meses, aproximadamente. Prevista por Gordon Moore na década de 60, em artigo publicado na Electronics Magazine, a lei não apenas se confirmou, como se mantém precisa até os dias atuais.

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Conforme Gerd Leonhard, é muito pouco provável que o futuro seja uma extensão do presente

Do ponto de vista prático, já passamos da fase da curva em que era difícil verificar se algo estava acontecendo. As mudanças exponenciais estão sendo percebidas em diversos setores, como comunicação, transportes, saúde, alimentação e energia. Mas, de acordo com o futurista Gerd Leonhard, ainda não chegamos no ponto em que as duplicações são tão grandes que os resultados ultrapassam a nossa compreensão.

Seja como for, é inegável que a curva de desempenho do progresso tecnológico está crescendo exponencialmente. Para nós, seres humanos, acostumados a pensar de forma local e linear, essa lógica representa um desafio cognitivo. Os avanços tecnológicos também estão sendo combinados e integrados, ou seja, sendo aplicados em uma série de domínios. Em suma, as tecnologias se inter-relacionam e se beneficiam uma das outras.

As mudanças nos últimos 30 anos

Começamos há poucos dias o ano de 202o e o início de uma nova década. Se pararmos para pensar nos últimos 3o anos, muita coisa mudou por conta dos avanços tecnológicos. Atividades que costumavam ser mais demoradas e trabalhosas são, hoje, facilmente realizadas por meio de aplicativos. Dois exercícios mentais – um no campo da alimentação e outro no dos transportes – nos ajudam a lembrar o poder das mudanças.

Na década de 90, para pedirmos uma pizza em domicílio, precisávamos saber o telefone da pizzaria para ordenar o pedido. Caso não soubéssemos, tínhamos de pesquisar nas “páginas amarelas”, que era um guia completo das empresas. Tínhamos de perguntar, por telefone, os sabores disponíveis para, então, escolher a pizza desejada. Era um exercício de paciência ao atendente descrever as opções existentes aos clientes.

Pedir um táxi igualmente não era uma tarefa simples. Precisávamos conhecer onde estavam os táxis mais próximos de nossa residência ou saber os telefones dos pontos de táxi. Caso não soubéssemos, tínhamos de consultar novamente as “páginas amarelas”. Não era raro ligar para um ponto de táxi e ter cinco ou seis pessoas na fila, antes de nós. Era necessário aguardar a vez para falar com o atendente e, finalmente, pedir o táxi.

As mesmas atividades são agora rapidamente desempenhadas pelos aplicativos. Com o iFood, seleciono a pizza que desejo em poucos instantes. Não preciso interagir com o atendente – não que fosse ruim, mas costumava ser trabalhoso – para saber quais são os sabores disponíveis. Enfim, tudo está disponível no app. Para pedir um táxi, abro o aplicativo 99 ou Uber e peço rapidamente uma corrida, sem maiores desafios.

O mercado jurídico será transformado até 2033

Esses rápidos exercícios mentais nos levam a pensar no campo do Direito. Em 2013, Richard Susskind declarou que o mundo jurídico mudará mais nos próximos 20 anos do que mudou nos últimos dois séculos. Na época, a previsão do professor britânico foi tachada de “absurda” por alguns profissionais. Mas, no ritmo acelerado das mudanças, por que o prognóstico de Susskind não poderia se confirmar até 2033?

Da forma como o quadro está sendo emoldurado no Brasil, com crescimento de 300% das startups jurídicas nos últimos dois anos, tudo leva a crer que alguém – um indivíduo ou uma empresa – desenvolverá, em algum momento no futuro, uma solução tecnológica que causará uma “disrupção” (quebra ou descontinuidade de um processo já estabelecido) no mercado jurídico, rompendo a forma como os profissionais trabalham.

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Em algum momento no futuro, haverá uma disrupção no mercado jurídico

O futuro do mercado jurídico

A criatividade humana não tem limites, e o progresso tecnológico não pode ser freado. O mercado jurídico será radicalmente transformado até 2033 e, em algum momento no futuro, a ruptura será implementada. Ainda não sabemos quando ocorrerá, quem o fará, o que será feito ou de que forma o Direito será afetado. Mas saberemos que acontecerá. A história recente do progresso tecnológico não nos deixa mentir.


Continue explorando o assunto

LEONHARD, Gerd. Tecnologia versus humanidade: o confronto futuro entre a máquina e o homem. Zurique: The Futures Agency, 2018.


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Bernardo de Azevedo

Bernardo de Azevedo

Advogado. Doutorando em Direito (UNISINOS). Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Computação Forense e Segurança da Informação (IPOG). Professor dos Cursos de Pós-Graduação em Direito da Universidade FEEVALE e da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
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