Saiba por que os escritórios de advocacia resistem à transformação digital

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Recente pesquisa do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que a maioria dos escritórios de advocacia brasileiros não está aproveitando o potencial das novas tecnologias, resistindo à transformação digital. Conforme o estudo, que teve como objetivo avaliar o grau de inserção tecnológica dos escritórios, a maio parte dos advogados usa apenas softwares de gestão processual.

Por que muitos escritórios estão resistindo à transformação digital?

De acordo com a pesquisa, uma possível explicação para o não aproveitamento do potencial da tecnologia é a ignorância da maioria dos escritórios – não no sentido pejorativo do termo, mas no sentido de “desconhecimento”. Ou seja, eles não entendem a dimensão das mudanças que estão por vir e desconhecem o potencial das soluções tecnológicas para aprimorar o desempenho da atividade profissional.

Outra possível explicação é descrença – ou a convicção de que “isso não acontecerá comigo”. Essa hipótese pressupõe que, mesmo reconhecendo as mudanças, os escritórios julgam que não serão afetados pelas novas tecnologias. Por não acreditarem que as inovações tecnológicas impactarão em suas rotinas, os profissionais não direcionam tempo ou recursos à pauta, mantendo as coisas como estão (status quo).

O que pensam os advogados e as advogadas?

Decidi explorar mais as duas hipóteses levantadas na pesquisa e saber o que advogados e advogadas pensam a respeito. Propus, assim, a seguinte enquete na redes sociais:

Em sua opinião, por que muitos escritórios de advocacia não adotam as novas tecnologias em suas rotinas?

(A) Eles não entendem a dimensão das mudanças que estão por vir e desconhecem o potencial da tecnologia;

(B) Eles reconhecem as mudanças, mas imaginam que não serão afetados (e por isso não tomam providências).

As respostas – até o momento da conclusão deste texto – foram as seguintes:

No Telegram (acesse aqui), 55% (opção A) e 45% (opção B);

No Instagram (acesse aqui), 79% (opção A) e 21% (opção B).

É claro que a enquete está longe de ser pesquisa científica e sofre limitações pelo próprio universo pesquisado (número reduzido de participantes, se comparado ao estudo da FGV). Mas, ainda assim, serve para “sentir a temperatura”. Conforme a maioria dos participantes, os escritórios não adotam novas tecnologias por ignorância (desconhecimento da dimensão das mudanças vindouras e do potencial das soluções).

Aprofundando a hipótese “A”

Penso que as hipóteses não são excludentes. Em relação à hipótese “A”, sua presença é perceptível. Já conversei com colegas que não sabiam completamente nada sobre este “novo mundo” do Direito. Em palestras, quando mencionei expressões como “lawtechs”, “legaltechs”, “startups jurídicas”, “resolução de conflitos online”, “visual law” e “legal design”, notei que muitas delas não existiam no vocabulário dos ouvintes.

Ao final de palestras, alguns participantes comentaram que nem imaginavam que “tudo isso existia” ou que “tudo isso estava acontecendo”. Mas me alegra ter compartilhado esses importantes conceitos, que agora permanecerão em seus “radares”. Então, desde a minha perspectiva, parece claro que muitos profissionais não entendem a dimensão das mudanças que estão por vir e desconhecem o potencial da tecnologia.

Aprofundando a hipótese “B”

Já a hipótese “B” também é perceptível, mas em menor grau e, além disso, se conecta com a anterior. Explico. A meu ver, o profissional que realmente estuda os propulsores de transformação – e o impacto das novas tecnologias nas diversas indústrias –, dificilmente seguirá acreditando que seu escritório não será impactado. Mas estou falando em estudar mesmo, com profundidade, e não a leitura de um único artigo ou notícia.

Profissionais que estudam as novas tecnologias e frequentam eventos de inovação jurídica têm noção do que vem por aí. Se realmente reconhecem as mudanças, sabem que seus escritórios serão afetados. Por outro lado, se acreditam que não serão impactados, é porque não reconhecem as mudanças com profundidade. É difícil encontrar, portanto, um profissional que reconheça as mudanças e, ainda assim, nada faça a respeito.

Incluindo a hipótese “C”

Com base em minha experiência profissional, acrescentaria uma terceira hipótese, para abranger os escritórios que reconhecem as mudanças, sabem que serão afetados por elas, mas não sabem como iniciar a transformação digital. Assim como existem profissionais que nada sabem sobre o Direito 4.0, existem aqueles cientes da realidade, dispostos a mudar, mas sem saber por onde começar.

Essa hipótese é mais perceptível que a “B” e, talvez, que a “A”. Afinal, os profissionais têm acesso à informação. Eles leem a respeito de inteligência artificial, ainda que não a compreendam. A própria OAB envia newsletters sobre temas da Revolução 4.0. Penso que a maioria ao menos já “passou os olhos” sobre esses assuntos, a menos, é claro, que não acesse notas de expediente (onde ficam os informativos) ou e-mails.

Mas saber da existência dessas transformações é diferente de se aprofundar. E, para isso, não há como evitar: é preciso ler, pesquisar, estudar. Mas a boa notícia é que o conhecimento está à disposição de todos. O profissional que deseja saber agora – nesse exato momento! – sobre esse “novo mundo” do Direito, consegue acessar cursos online, videoaulas, palestras, podcasts, artigos, notícias e muito mais.

Transformação digital nos escritórios de advocacia

Da mesma forma, o profissional pode desbravar os conteúdos disponibilizados neste site, que foram produzidos para ajudar todos aqueles e aquelas que desejam compreender os impactos das novas tecnologias e dar os primeiros passos rumo à transformação digital – o processo no qual se faz uso da tecnologia para aprimorar o desempenho, amentar o alcance e garantir melhores resultados – de seus escritórios.

Não é um processo rápido nem intuitivo, mas possível. Consumir permanentemente conteúdos conectados ao Direito 4.0 é o primeiro passo para iniciar o processo de transformação digital. Ao adotar o hábito de ler, estudar e pesquisar a respeito de temas inovadores diariamente, nossa mentalidade aos poucos começa a associar os conceitos e ver oportunidades em momento e locais que outros profissionais não são capazes de enxergar.

Já os próximos passos, leitor(a), serão assuntos de artigos por vir.


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Bernardo de Azevedo

Bernardo de Azevedo

Advogado. Doutorando em Direito (UNISINOS). Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Computação Forense e Segurança da Informação (IPOG). Professor dos Cursos de Pós-Graduação em Direito da Universidade FEEVALE e da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
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