Por que devemos ser mais futuristas em 2020?
O final de ano é sempre um momento importante em nossas vidas. É um período para refletir sobre o ano que passou e, acima de tudo, de fazer planos para o novo ciclo que se avizinha. Em suma, doze meses são suficientes para qualquer pessoa se esgotar e entregar os pontos. O novo ano traz consigo a dádiva da renovação, para que tudo comece outra vez, com outro número e com a vontade de acreditar que tudo será diferente.
Cada pessoa comemora a virada a seu modo. Aliás, o Réveillon é marcado por simbolismos. Algumas pessoas usam roupas brancas; outras compram vestimentas de diversas cores, cada qual representando uma virtude; há aquelas que comem romãs e guardam as sementes da fruta na carteira; há ainda aquelas que pulam as sete ondas. Todos esses rituais, crenças e superstições são importantes porque têm um caráter motivacional.
Simbolismos, rituais e motivação
E a motivação é fundamental para que as pessoas sejam (e se sintam) mais positivas, mudem seus comportamentos e adotem novos hábitos. Sendo assim, é importante acreditar. Eu e você queremos acreditar. E o simbolismo da virada de ano nos possibilita crer que tudo será melhor dali para frente. Mas, mais do que acreditar, o que realmente está faltando é fazer. Colocar a mão na massa. Fazer acontecer.
Muitas pessoas iniciam a nova etapa com uma vontade enorme de concretizar seus objetivos. Os olhos chegam a brilhar tamanhos são os planos que pretendem realizar. Mas, já nos primeiros dias de janeiro, adiam os esforços para após o Carnaval. Passada a festividade, protelam mais alguns dias, até março. E, assim, em um ciclo sem fim, passam o resto do ano procrastinando os sonhos desenhados às vésperas da virada.
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E chega o final do próximo ano, onde são celebrados novamente os rituais. O que realmente fizeram essas pessoas ao longo do ano para realizar seus objetivos? Aliás, em que momento se perdeu o ar de renovação que era tão evidente no Réveillon? Essa é a pergunta que todos aqueles que apenas viram o ano passar e não fizeram nada para mudar se fazem, ainda que inconscientemente, todo o final de dezembro.
Por outro lado, há aquelas pessoas que realmente buscaram o melhor de si durante o ano; deram início ou andamento aos planos delineados; esforçaram-se todos os dias em prol de seus desejos e sonhos; buscaram novos desafios. Enfim, essas pessoas não se escondem atrás de desculpas. Mas, afinal, qual é a diferença essencial entre as pessoas que protelam os objetivos e as pessoas que realmente fazem acontecer?
Não há uma resposta única e completa para essa pergunta, mas acredito que, em grande parte, se deve à maneira como pensam as pessoas que fazem acontecer. Essas pessoas normalmente possuem uma perspectiva temporal orientada para o futuro, e não para o presente ou para o passado. Em síntese, essas pessoas conseguiram reprogramar seu relógio psicológico. Contudo, o que exatamente significa isso?
Reprogramando o relógio psicológico
Você já deve ter ouvido falar do psicólogo Philip Zimbardo, que conduziu o famoso experimento prisional de Stanford, na década de 70. A experiência psicológica foi destinada a investigar o comportamento humano em uma sociedade na qual os indivíduos são definidos apenas pelo grupo. Zimbardo dividiu um grupo de pessoas em presos e guardas, para estudar como se comportavam em um período determinado de dias.
Mas o que pouca gente sabe é que a contribuição de Zimbardo à psicologia comportamental não se limita ao experimento prisional de Stanford (que, apesar de ter sido cancelado em poucos dias, muito nos ensinam sobre o comportamento humano). O psicólogo tem outros trabalhos relevantes. Entre eles, merece destaque o livro “O Paradoxo do Tempo” (2009), seguramente uma das obras mais transformadoras que li até hoje.
Escrito em coautoria com John Boyd, doutor em psicologia pela universidade de Stanford e um grande estudioso da psicologia do tempo, o livro busca compreender como as condições ambientais e o ritmo de vida são capazes de influenciar nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos. De acordo com Philip Zimbardo e John Boyd, todos nós fracionamos o fluxo contínuo de nossas experiências em referenciais temporais.
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Esses referenciais nos ajudam a dar ordem, coerência e significado aos acontecimentos a nosso redor. Todos os dias usamos as perspectivas temporais para codificar, armazenar e relembrar nossas experiências, formar opiniões e dar forma a nossos objetivos. O modo como agimos, nos relacionamos com outros e o interesse que temos por determinados assuntos decorrem, em grande parte, da influência desses referenciais.
A perspectiva temporal desempenha um papel fundamental no modo como vivemos; molda nossas decisões; provoca impacto na maneira como enxergamos o mundo. E tudo ocorre de forma inconsciente, sem que nos demos conta. A perspectiva temporal é, em suma, uma das influências mais poderosas nas ações, no pensamento e nos sentimentos humanos. Ao mesmo tempo, é a menos compreendida ou valorizada.
Passado, presente e futuro
Costumamos adotar um referencial temporal específico durante nossas vidas. Algumas pessoas têm perspectiva temporal orientada para o passado. As decisões tomadas são baseadas nas memórias, nas experiências vivenciadas. Para elas, o presente é irrelevante. O foco é o que foi. Por outro lado, há aquelas que se preocupam somente com a situação imediata, com o que os outros estão fazendo ou sentindo no momento.
Para essas pessoas, de perspectiva temporal orientada para o presente, as decisões são tomadas com base no que está ocorrendo naquele momento. O foco está no agora. Para outros, ainda, o importante é o futuro. As pessoas com perspectiva temporal orientada para o futuro buscam antecipar as consequências, analisar a relação custo-benefício. Em síntese, o passado e o presente são irrelevantes. O foco é o que será.
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Todas as perspectivas temporais têm pontos positivos e negativos. Mas o problema ocorre quando adotamos excessivamente um referencial em detrimento de outros. Muitas pessoas que fazem planos para o ano que está por vir têm orientação voltada única e exclusivamente para o presente. Em síntese, o foco excessivo no presente impede que elas realizem seus sonhos e objetivos, pois pensam somente no agora.
Não estou querendo dizer que não se deve desfrutar do presente. Não. Viver o presente é importante. Devemos todo dia celebrar a alegria de estar vivo. O entusiasmo do presente nos leva a explorar novos lugares, desbravar novos caminhos, explorar novos horizontes, conhecer novas pessoas e, sobretudo, conhecer a nós mesmos. Experimentar o presente é a própria afirmação da vida. O presente é, portanto, essencial.
Também não estou dizendo que não se deve valorizar o passado. Nada disso. O passado confere raízes. Ele nos conecta através do tempo e do espaço. Um passado positivo fornece uma impressão de identidade e continuidade de vida. Um passado positivo é o elo de ligação à família, à tradição e à herança cultural. Além disso, podemos aprender muito com os erros do passado para não repeti-los no presente e no futuro.
Pensando como futuristas
O que quero dizer, nesse pequeno texto, é que se realmente queremos modificar as coisas como estão e não chegar no próximo Réveillon fazendo novamente os rituais sem que nenhum de nossos objetivos (do ano anterior) tenha sido concretizado, devemos pensar um pouco mais no futuro. Devemos adotar uma perspectiva temporal orientada para o futuro. Em suma, sermos mais futuristas, na acepção mais ampla do termo.
Desenvolver a orientação para o futuro envolve abrir mão dos confortos do presente e do prazer imediato. Compreende ver o passado como um depósito de erros que podem ser corrigidos e de sucessos que podem ser repetidos e expandidos. Mas ser futurista é, acima de tudo, ter esperança. A esperança faz parte da orientação para o futuro. E a esperança dos futuristas não é inflada com fantasia, mas temperada com realismo.
Os futuristas sabem que devem trabalhar para fazer com que as esperanças se transformem em realidade e que com disciplina se consegue chegar onde se almeja. Ter experiências boas do passado e viver o presente são importantes, mas viver preso no passado (ou no presente) priva nossa vida de felicidade. O futuro, ainda que seja um estado mental construído psicologicamente, é feito com nossas esperanças, expectativas e aspirações.
Sejamos mais futuristas em 2020!
Mudar nossas atitudes em relação ao tempo não é uma tarefa fácil. Afinal, levamos anos para aprender nossa perspectiva temporal e não conseguiremos modificá-la da noite para o dia. Nada acontece em um passe de mágica. Mas precisamos começar agora, seguir em frente e planejar. Em suma, sem um plano talvez cheguemos ao topo da escada para somente então perceber que ela está apoiada no muro errado.
É claro que há valor em conseguir subir a escada, mas não é melhor que ela esteja apoiada no muro certo e forneça a visão mais ampla do topo? Assim, sejamos mais futuristas em 2020 fazendo uma lista de tarefas e começando pelas mais importantes até as menos importantes. Sejamos mais futuristas oferecendo recompensas a nós mesmos após completar cada uma delas; tentando descobrir o que nos impede de terminar as demais.
Sejamos mais futuristas em 2020 registrando o progresso em direção a nossos sonhos. Sejamos mais futuristas em 2020 estabelecendo objetivos que gostaríamos de atingir hoje, amanhã e depois de amanhã, para nos tornamos profissionais do Direito ainda melhores do que hoje. A vida é o que fazemos dela. E o tempo é tudo o que fazemos com ele. Cabe a cada um de nós decidir como fazer o tempo ser importante.
Não temos condições de modificar o que aconteceu no passado, mas podemos alterar nossas atitudes em relação ao que já passou. Pensemos, em suma, mais no futuro. O futuro confere asas que nos permitem alçar voo rumo a novos destinos. O futuro nos dá confiança para enfrentar os desafios inesperados que podem aparecer ao longo do caminho. Às vezes, trocar a moldura pode mudar a maneira como enxergamos a pintura.
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REFERÊNCIAS BOYD, John; ZIMBARDO, Philip. O paradoxo do tempo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
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