T-Shaped Skills: advogados devem se restringir às suas especialidades?

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Recente relatório do Fórum Econômico Mundial revelou que 1/3 das habilidades consideradas essenciais no mercado de trabalho não serão mais necessárias até 2020. O estudo demonstra, entre outros aspectos, o quão importante é assumir a postura de aprendiz no ambiente profissional, através do desenvolvimento contínuo de novas habilidades. É nesse contexto que se insere o tema de hoje: as T-Shaped Skills.

T-Shaped Skills

O conceito T-Shaped Skills não é exatamente novo. Referências a habilidades e “profissionais em forma de T” existem desde os anos 90 (em setembro de 1991, David Guest desenvolveu a ideia em artigo publicado no The Independent). Hoje, o termo é empregado para se referir a alguém que, além de possuir domínio profundo de uma disciplina, combina esse domínio com habilidades e conhecimento de outras áreas/campos.

Metaforicamente, os “profissionais em forma de T” são “profissionais em forma de I” (tradicionais) aprimorados. A imagem a seguir facilita a compreensão: a barra vertical (“I”) representa a profundidade das habilidades e conhecimentos relacionados a uma única disciplina; já a barra horizontal (“T”) representa a capacidade de colaborar com várias disciplinas e aplicar conhecimentos em campos/áreas diferentes das suas.

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T-Shaped Skills 01

Bons advogados normalmente têm habilidades e conhecimentos jurídicos profundos, mas pouco sabem sobre design thinking, data analytics e tecnologia. Embora muitos tenham triunfado em suas carreiras sem se preocupar “além do I”, a crise do ensino jurídico, os desafios das novas tecnologias, as mudanças no mercado jurídico e os novos dilemas éticos da advocacia estão exigindo novos tipos de profissionais.

A adaptação das T-Shaped Skills ao contexto do Direito surge em resposta a todos esses obstáculos. Em síntese, o que se propõe com o conceito é ensinar, informar e alertar os profissionais que, ao adotar uma postura “em forma de T”, as chances de terem êxito profissional são significativamente maiores. Em suma, ao atuar de forma transdisciplinar – sem fronteiras entre as disciplinas –, maiores serão as chances de “alçar voo”.

Postura de atuação transdisciplinar

Ser um “profissional em forma de T” é saber trabalhar em conjunto com outras disciplinas. É estar inclinado a “invadir” outras áreas do conhecimento para dissecá-las e compreendê-las. É “abraçar” o caso que foi trazido ao seu escritório sem “lavar as mãos”, ou seja, sem transferir a análise de questões pontuais a especialistas de outras áreas. A própria natureza do Direito assim exige, como destaca Letícia de Souza Furtado,

O Direito é um só. Um macrossistema todo interligado, especialmente untado pela Constituição, voltado à implementação de uma convivência harmônica entre os homens. É uma ciência aberta, essencialmente transdisciplinar, já que busca reger o mundo social sem deixar de observar o mundo da natureza. Transdisciplinar porque agrega diversos ramos – de Direito Público e de Direito Privado – que lhe são próprios, com uma finalidade superior, comum a todos; transdisciplinar também porque dialoga com outras ciências – como a antropologia, sociologia, psicologia, etc.

Como advogados, somos essenciais à administração da justiça. Em pleno século XXI, no auge do desenvolvimento tecnológico, num mundo no qual as relações humanas estão cada vez mais complexas, não faz sentido restringirmos nossa linguagem e nossa capacidade de compreender os problemas que nos chegam através de nossos constituintes. Não há, portanto, por que nos restringirmos aos limites de nossa especialidade.

Concluo com a excelente reflexão de Letícia de Souza Furtado,

Está na hora de assumirmos nosso papel no mundo, a começar por aquele que devemos desempenhar na vida de nossos clientes. Eles sempre nos trazem questões mais amplas do que podemos tratar nos limites de nossa especialização.


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Bernardo de Azevedo

Bernardo de Azevedo

Advogado. Doutorando em Direito (UNISINOS). Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Computação Forense e Segurança da Informação (IPOG). Professor dos Cursos de Pós-Graduação em Direito da Universidade FEEVALE e da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
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