Pandemia coloca a advocacia à prova: qual é a sua escolha?

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Há poucos dias realizei uma enquete, no Instagram, com a seguinte pergunta: em home office, você sente que está trabalhando mais ou menos que antes? Em síntese, mais de 80% dos participantes responderam que estão trabalhando mais que antes da pandemia. Em comentários à enquete, a expressão adotada pela maioria foi “muito mais”.

Home office durante a pandemia

Não é preciso se limitar à enquete para confirmar a nova realidade. Em conversa com colegas advogados, muitos relaram que nunca trabalharam tanto como agora. A quarentena tem tornado alguns profissionais mais produtivos. Ao mesmo tempo, a suspensão temporária dos prazos processuais têm estimulado advogados a iniciar novos projetos.

É claro que também existem profissionais desnorteados com a crise. Conversei com alguns advogados que não sabem como trabalhar em home office. Auxilio na medida em que posso, compartilhando ferramentas que entendo essenciais. Mas, é claro, cabe ao profissional manuseá-las, testá-las, experimentá-las e utilizá-las durante a atividade profissional.

Há também relatos de profissionais que estão conseguindo se conectar melhor com seus filhos e com sua família. O Gabriel Senra, aliás, propôs um questionamento importante: até que ponto existe mesmo separação entre vida pessoal e profissional? Quando você mora no trabalho, em que momento você deixa efetivamente de trabalhar? (Fica, aliás, a reflexão.)

Adaptação ou reinvenção?

O isolamento forçado está exigindo adaptação dos profissionais do Direito. Acredito que muitos vão aproveitar o momento de crise para se reinventar. Por se “reinventar”, em uma acepção ampla, imagino que alguns vão mudar de profissão, outros vão mudar de área de atuação e outros vão manter a área de atuação, mas mudar toda a forma de trabalhar.

Exploro, só para ilustrar, os três cenários, a partir do contexto da advocacia.

1. Mudando de profissão

Com a crise, alguns advogados simplesmente vão desistir da profissão. As desistências serão motivadas tanto pelas questões tecnológicas quanto por financeiras. Alguns profissionais não saberão como manusear as ferramentas tecnológicas e optarão por outra profissão. Alguns terão aprender, mas se darão por vencidos até finalmente “jogar a toalha”.

Para outros advogados, em suma, a atividade já era difícil antes mesmo o coronavírus. Se era um desafio fechar bons contratos de honorários em tempos “normais”, agora o cenário, definitivamente, não favorece o escritório. Ou seja, a pandemia de COVID-19 será vista por muitos profissionais como o “sinal que faltava” para abandonar, de vez, a atividade.

2. Mudando de área de atuação

A pandemia levará muitos profissionais a mudarem de área de atuação. Pensemos, por exemplo, nos advogados trabalhistas, muitos dos quais atendem reclamantes e recebem seus honorários somente no êxito da ação. Com a Justiça do Trabalho parada e com os prazos suspensos, os processos trabalhistas não andam, prejudicando esses advogados trabalhistas.

Neste mês, aliás, o CNJ deverá decidir se prorroga a suspensão dos prazos processuais. Caso decida negativamente, a Justiça do Trabalho deverá se posicionar sobre a forma como serão conduzidas as audiências trabalhistas (ato judicial importante para profissionais que atuam na área). As solenidades serão todas virtuais, em todos os estados da Federação?

Ainda é cedo para dizer, mas o cenário de incerteza poderá levar muitos profissionais a mudar de área de atuação, simplesmente por não acreditar no potencial de receber seus honorários tão cedo. Profissionais da área cível e mesmo da criminal, sob razões diferentes, podem também decidir mudar de área de atuação, dada a insegurança do cenário como um todo.

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3. Mudando a forma de trabalhar

Por si só, a forma de trabalhar já está mudando em tempos de coronavírus, mas muitos profissionais da advocacia estão acreditando que a pandemia cessará logo. Equivale a dizer que, mesmo com a crise decorrente do COVID-19, alguns advogados não mudarão a forma de trabalhar enquanto não lhes forem apresentados algum “sinal” de que assim o devem fazer.

Longe de ser pessimista, mas sendo realista a partir da noção de crescimento exponencial do COVID-19, tudo indica que a crise não cessará tão cedo. Alguns profissionais já estão se dando conta do cenário e mudando a forma de trabalhar, por meio da adoção de novas tecnologias. Outros, como disse, ainda vão esperar mais tempo até tomarem uma decisão.

Em tempos de pandemia, decisões precisam ser tomadas

A pandemia está exigindo dos profissionais da advocacia que definam seus próximos passos. Não há certo ou errado. Tampouco se deve julgar a(s) escolha(s) adotada(s). Tudo é se reinventar. Mas é inegável que decisões devem ser tomadas. Mudar de profissão, mudar de área de atuação ou simplesmente mudar a forma de trabalhar são, agora, as cartas na mesa.

Qual é a sua escolha?


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Bernardo de Azevedo

Bernardo de Azevedo

Advogado. Doutorando em Direito (UNISINOS). Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Computação Forense e Segurança da Informação (IPOG). Professor dos Cursos de Pós-Graduação em Direito da Universidade FEEVALE e da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
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