A animação forense 3D ainda não está tão disseminada no Brasil, mas vem crescendo a passos largos nos últimos anos. Hoje, profissionais da área jurídica já podem contar com serviços de empresas especializadas para apresentar representações visuais dos casos judiciais e comunicar melhor seus argumentos. Com a ascensão do metaverso, inclusive, é provável que júris com realidade virtual sejam comuns no futuro.
Júris com realidade virtual?
Nos tribunais do futuro, a animação forense será capaz de transportar o juiz e os jurados para qualquer cenário. Será possível recriar, com precisão de detalhes, os fatos relatados por testemunhas. Combinadas com a realidade virtual e com hardwares avançados, as animações permitirão que os jurados se tornem “investigadores”, analisando ambientes, provas, documentos e depoimentos para formar sua convicção.
É provável que os sistemas de justiça estejam há anos de distância até que a realidade virtual seja utilizada no cotidiano. Mas é inegável que estamos agora mais próximos de ver esse cenário se concretizar, com a difusão do conceito do metaverso e da massificação da venda de headsets pela Meta nos últimos meses. Em suma, Google Cardboard e óculos que exigiam acoplar o smartphone são artefatos do passado.
Quanto à animação forense, a técnica já é uma realidade nas sessões de julgamento do júri. No Brasil, criminalistas já empregam animações computadorizadas em plenário, durante os debates orais, em telões ou monitores, para expor as teses defensivas aos jurados. Os resultados têm sido efetivos, e a técnica vem facilitando a compreensão dos jurados sobre as teses apresentadas. Veja três exemplos de aplicação:
- Animação em 3D é utilizada pela primeira vez em Chapecó para julgamento de crime
- Assassinado em 2020: família espera julgamento de ex e amante em Assis Chateaubriand.
- Defesa e acusação reproduzem morte de empresária e conflitam versões para autoria do crime
Uma dúvida a ser superada, ao combinar a animação forense com a realidade virtual, está relacionada ao papel do jurado na experiência imersiva. Deve o jurado assumir o papel de espectador ou de protagonista? É dizer: seu papel deve se restringir a acompanhar a narrativa apresentada, como já acontece na animação forense, ou deve ser capaz de percorrer livremente o cenário e interagir com os elementos da cena?
Jurado como espectador
Da forma como a animação forense é apresentada hoje nas sessões do júri, o jurado assume a figura de espectador. Ou seja, acompanha a narrativa visual apresentada em telões ou monitores, mas sem interagir com os objetos ou com o ambiente. Profissionais da área jurídica já estão pensando no próximo passo: disponibilizar um headset ao jurado para que continue como espectador, porém com maior nível de imersão.
Acompanhar o júri por meio de um headset de realidade virtual pode ser algo positivo. É provável que o jurado tenha uma compreensão maior sobre os fatos apresentados, justamente por estar “dentro” da cena do crime. É igualmente provável que rememore a experiência imersiva e contribua para um julgamento mais acurado. Somente o tempo dirá se a técnica é efetiva ou se o melhor é apresentar mesmo no telão.
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Jurado como protagonista
Mas, à medida que a compreensão em torno da realidade virtual avança, alguns profissionais já estão pensando além, tornando o protagonismo do jurado ainda maior. Em vez de um tour guiado no qual é mero espectador, como no exemplo anterior, o jurado poderá navegar livremente no ambiente virtual. Ou seja, poderá percorrer o cenário, interagir com objetos virtuais da cena e enxergar o crime sob diferentes óticas.
Ainda não estão claros todos os pontos negativos que podem surgir da modalidade. Há risco de que o jurado perca o foco durante a experiência, já que ficará distraído explorando o ambiente e os objetos virtuais. É provável também que cada jurado percorra a cena do crime como bem desejar e deixe de acompanhar a narrativa principal, ou seja, o fio condutor da tese (acusatória ou defensiva) apresentada em plenário.
Os próximos passos
Estamos caminhando para julgamentos com profissionais cada vez mais qualificados, que adotam recursos visuais e técnicas inovadoras para apresentar argumentos e teses jurídicas. Por ora, as animações 3D já são impressionantes e despertam nossa curiosidade, mas certamente não serão páreas para a capacidade de viajar no tempo ou no espaço de amanhã. Quero acompanhar de perto toda essa transformação.
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