Resistir às novas tecnologias não é exclusividade dos advogados brasileiros

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Ao contrário do que se poderia pensar, resistir às novas tecnologias não é exclusividade dos advogados brasileiros. Mesmo profissionais atuantes na Inglaterra e no País de Gales, nações cuja estrutura regulatória dos serviços jurídicos está em revisão desde 2004, preferem manter o modelo analógico de advocacia. Um recente estudo da Law Society, que representa os advogados nesses dois países, explica o porquê desse comportamento.

O mercado jurídico britânico

Os advogados britânicos vêm sofrendo pressão crescente para adotar soluções tecnológicas em seus escritórios de advocacia. As razões são as mais diversas, mas, entre elas, se destacam a necessidade de maior eficiência, a complexidade das novas demandas e, sobretudo, a exigência dos clientes por mais qualidade e menores custos (o desafio do “mais por menos” de que nos fala o professor Richard Susskind).

A maioria dos advogados no Reino Unido reconhece que o mercado jurídico está mudando. Também sabe que adotar a tecnologia nos escritórios de advocacia é um diferencial competitivo. O detalhe curioso é que, na prática, muitos profissionais da advocacia preferem não utilizar o potencial dessas ferramentas. Foi buscando entender o motivo desse comportamento que a Law Society encomendou a Lawtech Adoption Research.

Resistir às novas tecnologias é uma realidade entre os britânicos

O estudo, conduzido pela empresa de consultoria TechMarketView, partiu de uma revisão bibliográfica para compreender o universo de lawtechs no Reino Unido, bem como as soluções tecnológicas existentes. Em um segundo momento, os pesquisadores realizaram 47 entrevistas semiestruturadas, com duração entre 30 e 45 minutos, com (co)fundadores de lawtechs, entre executivos, especialistas em TI e advogados.

A pesquisa concluiu que a adoção (ou não) de novas tecnologias está diretamente relacionada ao modelo de negócio em que os profissionais da advocacia atuam. Em síntese, advogados atuantes no modelo business-to-business (B2B), principalmente aqueles profissionais que integram grandes escritórios de advocacia, são mais inclinados a aceitar tecnologias como inteligência artificial e machine learning.

O mercado B2B é, portanto, mais maduro quando o assunto é implementação de tecnologias para aprimorar os serviços jurídicos. Já o modelo business-to-consumer (B2C), no qual se concentra a maioria dos profissionais, é bem mais atrasado. De acordo com a pesquisa, escritórios de advocacia que prestam serviços jurídicos nesse modelo não adotam certas tecnologias até que se elas tornem mais estabelecidas ou comoditizadas.

O estudo também analisa a adoção da tecnologia entre os in-houses lawyers, que são advogados contratados por departamentos jurídicos de grandes empresas para lidar com uma série de questões jurídicas a elas relacionadas. Conforme a pesquisa, os in-house lawyers são mais engajados em relação à tecnologia do que os advogados atuantes no modelo B2C. Contudo, ficam muito atrás dos profissionais do modelo B2B.

B2B, B2C e in-house lawyers

Em resumo, a tabela a seguir revela o grau de adoção de novas tecnologias em cada um dos modelos de negócio:

resistir às novas tecnologias 01

Como toda pesquisa, as conclusões são sempre parciais (incompletas), pois a amostragem contempla apenas parte do universo estudado. Ainda assim, a Lawtech Adoption Research reúne informações valiosas sobre o comportamento dos advogados britânicos. A leitura é, portanto, recomendada. Enfim, para conferir o resumo da pesquisa, clique AQUI. Já para conferir a pesquisa na íntegra, clique AQUI.


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Bernardo de Azevedo

Bernardo de Azevedo

Advogado. Doutorando em Direito (UNISINOS). Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Computação Forense e Segurança da Informação (IPOG). Professor dos Cursos de Pós-Graduação em Direito da Universidade FEEVALE e da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
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