Em menos de uma década, tribunais estarão usando realidade aumentada

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Em seu livro Online Courts and The Future of Justice, Richard Susskind sustenta que os tribunais vão começar a adotar tecnologias de realidade aumentada ainda nesta década. Conforme ele, tais ferramentas serão usadas em audiências físicas e virtuais, tanto para facilitar a compreensão dos atores judiciários quanto para aprimorar a produção probatória.

Compreendendo a virtualidade

A realidade aumentada (RA), só para ilustrar, não se confunde com a realidade virtual (RV). Enquanto a RV substitui completamente o mundo físico por um mundo digital, a RA sobrepõe informações no mundo físico. Com a RA, o usuário continua enxergando o mundo em que vive, mas também enxerga objetos tridimensionais, vídeos e animações.

Para imergir em RV, o usuário deve estar utilizando head-mounted displays ou headsets. Tais dispositivos são necessários para que a experiência seja imersiva (ponto discutível). Já no caso da AR, o usuário nem sempre precisa usar headsets, já que muitas aplicações estão sendo integradas com os próprios smartphones (como foi o caso do Pokémon Go).

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Devemos levar a realidade virtual para os tribunais?

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Os dispositivos serão usados em audiências físicas e virtuais

Realidade aumentada nos tribunais

Esclarecidas as diferenças, fica a pergunta: mas de que forma a RA poderá ser usada nos tribunais? Susskind vislumbra ao menos duas aplicações. Em primeiro lugar, o professor imagina um futuro no qual as partes vão utilizar dispositivos capazes de expor comentários em texto sobre objetos ou pessoas que estiverem em seus campos visuais.

Vamos supor que você esteja usando um headset de RA durante uma audiência. Nesse caso, ao olhar em direção ao computador da sala de audiência, o dispositivo fornecerá detalhes sobre o processo; ao olhar para a testemunha, você saberá se ela tem antecedentes criminais; ao olhar para o juiz, saberá quantos processos ele julgou, e assim por diante.

Imagine litigantes em tribunais tradicionais usando algum tipo de hardware que pode fornecer comentários textuais sobre objetos e pessoas para as quais o usuário está olhando. Da mesma forma, por meio de um headset este comentário e percepção podem ser audíveis. – Richard Susskind 

Outra possível aplicação da tecnologia envolve igualmente as audiências. Susskind imagina combinar RA com softwares de rastreamento ocular para detectar quais objetos ou pessoas na sala (ou na tela, no caso das audiências virtuais) os usuários estão olhando. Magistrados, promotores de Justiça e advogados usariam tais recursos da seguinte maneira:

  • Um juiz poderá orientar melhor o réu caso perceba que ele não está concentrado na audiência;
  • Um promotor de Justiça poderá se valer do mesmo aspecto para afirmar aos jurados, durante uma sessão de julgamento do Tribunal do Júri, que o réu está envergonhado do que crime que praticou;
  • Após uma audiência, um advogado poderá ter acesso ao relatório completo com os movimentos oculares, para estudar e usar tais dados em futuras manifestações (petições, recursos, etc.).

Miopia tecnológica

Susskind antecipa que alguns profissionais classificarão essas ideias como excêntricas. Mas tal negação é próprio do que ele denomina “miopia tecnológica”. Conforme ele, não podemos fundamentar nossas convicções com base na tecnologia atual. Muito mudará em pouco tempo. Tecnologias como a AR serão capazes de melhorar os serviços judiciais:

Em menos de uma década, os tribunais estarão usando sistemas de realidade aumentada e até mesmo serviços holográficos tridimensionais. – Richard Susskind 

Continue explorando o assunto

SUSSKIND, Richard. Online Courts and The Future of Justice. Oxford: Oxford University Press, 2019.


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Bernardo de Azevedo

Bernardo de Azevedo

Advogado. Doutorando em Direito (UNISINOS). Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Computação Forense e Segurança da Informação (IPOG). Professor dos Cursos de Pós-Graduação em Direito da Universidade FEEVALE e da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
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