Richard Susskind alerta sobre a ‘miopia tecnológica’ no uso do ChatGPT

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Historicamente avesso às novas tecnologias, o setor jurídico tem experimentado o impacto da IA generativa e dos grandes modelos de linguagem nos últimos anos. Em uma entrevista ao Legaltech News, Richard Susskind falou sobre o modelo GPT-3.5 e do ChatGPT, sua mais recente aplicação, e ressaltou o imenso potencial que eles têm para a transformação dos serviços jurídicos.

O professor britânico também discutiu sobre como os advogados precisam se preparar para essas mudanças se desejam ter carreiras de sucesso em um futuro próximo. Confira a seguir mais detalhes da entrevista sobre o GPT-3.5 e o ChatGPT:

Qual foi o ímpeto por trás da nova edição de Tomorrow’s Lawyers?

Richard Susskind brinca que escreve o mesmo livro a cada quatro anos, pois a tecnologia evolui rapidamente e é necessário repensar a forma como ela pode ser usada para melhorar a prática jurídica e a administração da Justiça. Seu objetivo é preparar jovens advogados e questionar as faculdades de direito sobre o que estão treinando esses profissionais para se tornarem. Essa é a mesma questão que os escritórios de advocacia enfrentam: como será o negócio em 2030? Susskind procura abrir a mente das pessoas e incentivá-las a pensar além dos próximos dois ou três anos, afirmando que, assim como outras profissões, o direito também está mudando radicalmente.

Você descreve isso como uma edição “muito alterada”. Por quê?

O especialista britânico afirma que o mundo jurídico tem se mantido relativamente inalterado desde o século XIX, mas que a pandemia de COVID-19 trouxe uma mudança fundamental na direção da profissão e na abertura para a tecnologia. Ele destaca que, quando escreveu a primeira edição do seu livro, havia cerca de 200 startups de tecnologia jurídica, mas agora há perto de 4.000. Susskind apontou que embora nem todas sejam disruptivas, aproximadamente 1.000 delas possuem o objetivo de fazer o que a Amazon fez para vender livros. Ele ressaltou que essa situação era impensável há seis ou sete anos atrás, e certamente não existia há 10 anos.

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Quais são alguns dos novos desenvolvimentos que você aborda neste livro?

Richard Susskind aponta que há um grande interesse em formas novas e disruptivas de fornecer serviços jurídicos, impulsionadas por potenciais disruptores além da profissão, como evidenciado pelo aumento do capital de risco para essa área. Ele destaca que um novo capítulo que não estava presente em seus livros anteriores é o modelo de grade, que classifica a tecnologia jurídica em quatro classes amplas. O capítulo também discute tecnologias legais disruptivas que mudaram significativamente nos últimos anos.

‘Miopia tecnológica’ no uso do ChatGPT

Falando em tecnologias disruptivas, como um especialista em IA, como você vê o avanço de grandes modelos de linguagem como o GPT-3.5 transformando o universo jurídico?

O professor afirma que o desenvolvimento da IA generativa é o mais notável que já viu pessoalmente em seus 40 anos de trabalho, e a maioria dos especialistas não esperava por isso alguns anos atrás. Ele observa que o ChatGPT surgiu desde que escreveu seu livro e antecipa o surgimento de sistemas de controle de qualidade em que é possível fazer perguntas e fornecer respostas.

Ele afirma que as tecnologias disruptivas foram estendidas consideravelmente com a chegada do GPT-3.5, que inicia um novo capítulo em sua história de trabalho na área de IA e advogados. No entanto, Susskind acredita que ainda estamos no início da evolução desses sistemas, e que tendemos a sofrer de miopia tecnológica. Ele argumenta que o ChatGPT nos oferece uma visão inicial do que esses sistemas alcançarão em muitos anos, à medida que se tornam cada vez mais capazes. Susskind incentiva os leitores a pensar estrategicamente sobre como esses sistemas evoluirão, em vez de se concentrar em suas capacidades e limitações atuais.

ChatGPT

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Então, o que essa tecnologia tem potencial de fazer?

Richard Susskind destaca que a conversa em torno da IA mais avançada até agora tem sido estreita, mas que o GPT é notável por seu alcance em quase qualquer campo ou disciplina. Ele observa que o sistema foi treinado para imitar a conversa humana, e o nível e a qualidade da interação são notáveis, pois o diálogo é mais envolvente do que apenas uma pergunta e resposta simples.

Ele acrescenta que o GPT é imediatamente acessível e já está sendo utilizado para gerar contratos aproveitáveis e para ajudar nos exames da Ordem, entre outras coisas. Susskind alerta que, embora a maioria das afirmações de curto prazo sobre o impacto do GPT sejam exageradas, as afirmações de longo prazo são subestimadas. Ele prevê que, até 2030, os sistemas concorrentes futuros vão levar a profissão a um lugar radicalmente diferente para o qual o profissional não está preparado.

Em geral, quais são as mudanças que a tecnologia provavelmente causará dentro do mundo jurídico, mais cedo ou mais tarde?

Segundo Richard Susskind, há três pressões que estão afetando o mercado de serviços jurídicos. A primeira delas é a pressão de custos, decorrente da insuportável pressão que os clientes sofrem para reduzir seus gastos. Nesse sentido, os escritórios de advocacia precisam buscar alternativas para fornecer serviços jurídicos a um custo menor.

A segunda pressão decorre da crescente liberalização das jurisdições, o que tem impulsionado provedores de serviços jurídicos alternativos a oferecer serviços mais eficientes e econômicos que muitos escritórios de advocacia. Por fim, a terceira pressão é o aumento constante da capacidade tecnológica, o que significa que cada vez mais tarefas jurídicas poderão ser executadas por máquinas, não por seres humanos. Susskind destaca que o ChatGPT é um exemplo interessante dessa tendência.

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Como os advogados podem se preparar melhor para essas transformações?

A resposta geral de Richard Susskind é que existem cerca de 15 novas habilidades para advogados. Ele acredita que cada advogado precisará treinar novamente em pelo menos duas delas para ter sucesso no final desta década e além. Não será suficiente ser um grande especialista jurídico ou assistente jurídico. Será necessário adquirir novas habilidades. Ele também destaca que esse desafio não é exclusivo para advogados, mas também para médicos, contadores, professores e consultores. Ele observa que vivemos em um momento notável em que novas tecnologias e sistemas inovadores estão assumindo tarefas anteriormente realizadas exclusivamente por seres humanos.

Quais são algumas dessas novas habilidades que os advogados terão que aprender?

Richard Susskind afirma que existem diversas oportunidades para profissionais do direito no mundo da tecnologia, como legal designers, engenheiros de conhecimento jurídico, cientistas de dados jurídicos, entre outros. Ele acredita que os sistemas jurídicos e de justiça estão precisando de mudanças e que os advogados da nova geração têm a oportunidade única de construir sistemas que substituam as antigas formas de trabalhar.

Susskind encerra fazendo um apelo aos jovens advogados, incentivando-os a abraçar essa oportunidade e construir sistemas que possam substituir os métodos tradicionais de trabalho do setor jurídico.

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Bernardo de Azevedo

Bernardo de Azevedo

Advogado. Doutorando em Direito (UNISINOS). Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Computação Forense e Segurança da Informação (IPOG). Professor dos Cursos de Pós-Graduação em Direito da Universidade FEEVALE e da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
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